Lua de Sangue - Novel - Capítulo 10 - O Começo Da Maldição
— Radan!
Leshak rapidamente pegou Radan e passou os braços em volta dele. Karum, que o seguiu imediatamente, pegou uma faca e cortou a cobra ao meio.
GRITAR! –
A cobra gritou com um som estranho. A cobra foi cortada ao meio e não morreu imediatamente; em vez disso, se agarrou ao antebraço de Leshak.
— Alteza!
Karum agarrou a cobra com as próprias mãos e puxou do braço de Leshak. Ele imediatamente jogou no riacho. Ali o corpo da cobra foi engolido pela água onde foi jogada.
—Você está bem? Ah, você está ferido…!
O sangue respingou na camisa molhada de Leshak. Karum arregaçou a manga de Leshak. Havia sangue escorrendo das duas pequenas marcas de perfuração.
— O ferimento não é ruim, mas estou preocupado que possa ser venenoso.
Então Karum deu um tapa na testa.
— Eu não deveria ter jogado fora a cobra daquele jeito!
— Tudo bem. Se for da variedade venenosa, descobriremos em breve.
O rosto de Radan estava pálido enquanto procurava por Leshak.
— Ma-Majestade…? Você está… hum, machucado…?
— Não precisa se preocupar. Vamos dar uma olhada em suas mãos.
Leshak agarrou a mão de Radan e levantou-a. Felizmente, não havia feridas nas mãos brancas e secas.
— Você está bem.
Karum estava inquieto e mexeu os pés.
— Meu Senhor, você tem que voltar imediatamente. O veneno de cobra pode se manifestar de maneira diferente…
Leshak perguntou a Radan.
— Está tudo bem se voltarmos? Você gostaria de ficar aqui mais tempo?
Radan balançou a cabeça rapidamente.
— Ah, não… não! Não há problema em voltar… n, não…… eu quero voltar! Venha, vamos!
Leshak de repente caiu na gargalhada com sua reação.
— … …?
— Alteza?
A risada parou depois de um tempo. Leshak puxou Radan e enterrou os lábios no topo de sua pequena cabeça.
— Não vai demorar muito agora.
— … …?
— M-Meu Senhor?
A mesma reação de antes se seguiu. Foi difícil entender o contexto da declaração, assim como uma súbita gargalhada.
— Vou deixar isso para lá por enquanto, mas não me faça esperar muito.
— O que… o que você quer dizer…
— Estou falando de quanto tempo você vai levar para me aceitar.
Leshak levantou Radan com um movimento leve e o encarou na direção certa.
— Vamos voltar.
— …sim, Meu Senhor.
‘Ainda bem que estou usando uma venda’, pensou Radan. Se não fosse por isso, Leshak certamente teria visto a culpa em seus olhos.
‘Não posso matá-lo’, pensou Radan com todas as suas forças. Ele não vai matar esse homem. O conflito acabou. Agora só faltava a escolha… como e quando ele voltaria?
— Espere um minuto.
A ideia da lesão de Leshak fez Karum acelerar seus passos, enquanto um homem acelerava, os outros naturalmente tinham que acompanhá-lo. Foi então que Leshak fez Radan parar.
— …sim, Sua Alteza? — Disse Radan, levantando a cabeça, procurando ao redor.
Leshak se abaixou e agarrou o tornozelo de Radan.
— Alteza! — Leshak estalou a língua suavemente.
— …de alguma forma, seus passos pareciam estranhos.
Seus pés estavam inchados. Radan, que estava com os olhos vendados, caminhava muito mais devagar do que os outros dois, e eles não percebiam o esforço que andar tão rápido causava em seus pés. Leshak notou que Radan estava se arrastando.
— C-como?
— Você deve ter caminhado por muito tempo. Eu não percebi.
— Ah… está, está tudo bem ……
Karum, que estava cerca de dez passos à frente deles, voltou. Ele também tinha uma expressão que dizia que também não percebeu.
— Eu também não percebi.
— Ele não consegue continuar andando.
— Então carrego ele, Meu Senhor.
Karum se inclinou na direção de Radan para oferecer as costas largas. Radan ficou parado, ele não sabia o que estava acontecendo. Leshak balançou a cabeça em nome de Radan.
— Não, nem pense em tocá-lo.
— O quê? Não, Meu Senhor, seu braço não está machucado? Deixe isso comigo.
— Meu braço está bem. Pelo que posso dizer, parece que era apenas uma cobra d’água não venenosa. Radan…
— Sim, Sua Alteza.
No momento em que respondeu, sentiu seu corpo sendo puxado.
— Uh, ah !
Radan ficou tão surpreso que agarrou o que pôde ao seu alcance, mas acabou sendo o cabelo de Leshak.
— Ah, ah !
Leshak segurou Radan com um braço, tirou o sapato com a mão oposta e entregou o sapato a Karum.
— Escuta.
— Sua Alteza! Por favor, seu braço está machucado. Apenas deixe isso comigo.
— Não, está tudo bem. Ele é tão leve que é preocupante. Você precisa de mais carne no seu corpo… terá que comer mais carne de cobra.
— Isso… mais tarde, veremos.
Karum se virou com os sapatos na mão. Leshak levantou Radan, que não conseguia fazer nada, e lutava nos braços de Leshak.
— Relaxa, você vai cair se ficar remexendo assim.
— Está tudo bem… você não precisa fazer isso, Alteza.
— Não importa o que diga, Radan. Vou fazer o que eu quiser. Se você não quiser cair, passe os braços em volta do meu pescoço.
— Não, sou pesado… seu braço também está machucado.
— Como eu disse, você não é nada pesado.
Radan se sentiu péssimo. Mesmo sendo pequeno, ainda era o corpo de um homem de 19 anos. No entanto, ele era ridiculamente leve para seu tamanho. Parecia que havia uma deficiência de peso quando ele foi segurado nos braços de Leshak.
Seu pai tinha demência e seu irmão precisava de ajuda, então eles levaram o cego Radan à prostituição para sustentá-los. E Radan, que ganhava o dinheiro, não era alimentado nem cuidado adequadamente!
Mesmo assim, Radan ainda rejeitou sua oferta de se tornar cidadão imperial e insistiu em retornar para sua família. O pior é que pessoas assim, como a família dele, ainda tinham o carinho de Radan!
‘Caramba!’ Leshak pensou: ‘Derrame esse amor em mim!’
Leshak lambeu os lábios. Ele disse que estava carregando Radan, embora seu braço estivesse machucado, temia que o urso Karum o deixasse desconfortável ao carregá-lo. Mas no geral, o braço dele não doía tanto, não parecia que tinha veneno. Mas ainda assim ele…
— … …
Ele parou de reclamar consigo mesmo.
Radan estava gentilmente envolvendo seus braços em volta dele, exatamente como ele havia dito. Seu corpo estava pressionado firmemente contra ele, e ele podia sentir sua temperatura quando tocavam. Radan relaxou seu corpo rígido e se apoiou totalmente nele. A bochecha de Radan tocou sua orelha.
‘…… droga. Eu não queria abraçar ele com isso em mente. Mas ainda assim é… droga, é tão bom. Realmente, muito bom.’
— Radan.
A voz chamando Radan tornou-se mais suave e mais sedutora.
— Você não deveria me agradecer?
— …… sim, Meu Senhor. Obrigado.
— Você pode me pagar de volta. Você sabe o que eu quero.
— Ah…
— Rápido
Um beijo.
Radan então cuidadosamente se afastou de seus braços e traçou seu rosto com a mão para encontrar a posição de seus lábios.
— … …
Mas em vez de Radan beijá-lo, ele descansou a mão em seu rosto.
— Radan?
Leshak, que estava esperando, pressionou ele a continuar. Radan voltou a si e ergueu a mão.
— Ah, Sua… Alteza.
— Por que parou?
— Isso é… …
— Isso é?
Algo misterioso se espalhou pelo rosto meio coberto de Radan.
— É diferente.
— O que é diferente?
— É algo novo… nariz, queixo… dentes, lábios… …
Leshak de repente se perguntou como Radan reconhece as partes do corpo?
— Você substituiu seus olhos pelas mãos?
Leshak disse enquanto caminhava lentamente.
— ……
Por alguma razão, Radan não respondeu.
— Você pode tocar o quanto quiser. Me toca até se acostumar com minha aparência.
— …ok, obrigado. Alteza.
Os dedos de Radan rastejam sobre seu rosto. Ele tocou o rosto de Leshak como se estivesse explorando diligentemente. Testa reta, sobrancelhas bem formadas, assim como as pálpebras e olhos abaixo, escovou os cílios abundantes lentamente e por muito tempo, como se contasse o número de fios de cabelo um por um. Ele tocou o nariz, que tinha uma ponte alta que deslizava graciosamente, pele lisa e firme e linhas de lábios perfeitas, ele armazenou essas memórias na ponta dos dedos.
— Fa-fascinante.
Radan disse quando finalmente tirou as mãos do rosto de Leshak.
— O quê?
— Você, seu rosto… é si, simétrico… e, muito reto e uniforme…
— É assim mesmo?
Radan suspirou e depois murmurou.
— Eu quero ver você… uma vez. Ah ….. .
Radan engoliu o resto de suas palavras, pensando que havia dito algo que não deveria. Leshak não tentou forçá-lo a dizer as palavras que engoliu.
— Seus olhos são assim desde o nascimento?
— Sim… Alteza.
— Então não pode ser curado? Então, o médico que examinou você disse isso?
— Não pode ser curado. Eles disseram que ninguém poderia curar.
— Sério?
Leshak apertou Radan em seus braços sem correr para um beijo, enquanto sua mão acariciava suavemente as costas de Radan.
— Lamento muito ouvir isso. Eu gostaria que você pudesse ver meu rosto.
— … sim. Sim, Meu Senhor.
— Então se apaixonaria por mim também. Ouço em todos os lugares que sou bonito.
O movimento das pálpebras de Radan farfalhando sob a venda foi transmitido às bochechas de Leshak. Radan piscou repetidamente.
— Sim, Vossa Alteza… tenho certeza que sim.
— Se aceitar meu namoro, você será informado de que somos um casal bonito onde quer que formos, pois você é bonito também. Não, no seu caso, parece bonito, combina melhor com você.
— Ah… Ah…?
Radan balançou a cabeça como se estivesse confuso. Leshak imaginou que não tinha ouvido muitas pessoas chamá-lo de bonito.
— Então não me faça esperar muito. Muitas vezes ouço que ‘Leshak é paciente ’, mas não acho que seja necessariamente esse o caso.
— Ah… .
Radan lambeu os lábios como se fosse dizer algo, mas nunca saiu. Como Leshak havia adivinhado, esta foi a primeira vez que Radan ouviu tal coisa. O que Leshak não conseguiu entender foram os sentimentos complicados que essas palavras causaram em Radan.
As últimas palavras que Alsanu Ill falou a Radan foram que ele era uma maldição de Deus, não seu filho. A palavra mais frequente de Laud para ele era que parecia um monstro horrível. Que ele era um assassino que matou sua mãe logo após seu nascimento e foi um desastre para a família real Kemened.
— Ah…
A mão que segurava Leshak tremia. A ideia de não poder matar Leshak cresceu, era assustador. Radan mordeu o lábio até sangrar. ‘Sinto muito, Laud. Ser um Príncipe do Reino Kemened não importa mais.’
‘Eu gosto desse homem’
‘Sinto muito, Laud, mas quero que essa pessoa viva.’
‘Laud não vai me perdoar’, pensou Radan, embora não pudesse ser evitado.
‘Sinto muito, sinto muito mesmo… mas ainda não consigo.’
— Alteza, ainda estou aqui.
A voz de Karum à frente deles tirou Radan de seus pensamentos.
— Sua Alteza?
— … ….
Sidris pensou consigo mesmo: ‘ Estou cansado de ficar surpreso e envergonhado’ .
O Príncipe Leshak caminhava segurando o prostituto nos braços, puxando contra o peito com uma atitude mais respeitosa do que se estivesse segurando uma senhora. Vendo que o prostituto estava descalço, ele deve ter machucado o pé ou algo assim.
— Ah… .
Mesmo assim, ele estava cansado de falar se isso era demais ou não. Enquanto Sidris estava em silêncio, Abadd, que estava menos cansado que ele, bufou uma palavra.
— Alteza. Por que você não usou as costas largas de Karum? Karum, o que você está fazendo? Como você pode ficar parado enquanto Sua Alteza faz um trabalho tão duro?
Coincidentemente, o momento foi perfeito. No momento em que Leshak voltava de sua caminhada, Sidris e Abadd, que acabavam de procurar um alfaiate, também chegaram ao acampamento e desciam dos cavalos. Leshak continuou caminhando até o quartel, ainda segurando Radan.
— Do que você está falando, Abadd? Não quero que outras pessoas o segurem, — perguntou Leshak.
— Não, isso… é só que há olhos observando isso. Você deveria pensar em salvar sua aparência também… bem… não deveria fazer isso? — Perguntou Abadd.
— Salvar o rosto?
— Ah. Claro, eu realmente respeito o caráter de Sua Alteza, que valoriza ‘salvar a face’ tanto quanto o ranho de um porco.
Leshak simplesmente balançou a cabeça.
— Seria mais humilhante permitir que alguém mais fraco do que eu andasse até os pés incharem. É mais estranho pensar que esse tipo de coisa faria as pessoas perderem prestígio.
Abadd, que de repente se sentiu estranho, fez uma expressão estranha.
— Uh… sim Sua Alteza. Agora que penso nisso, parecia a coisa certa a fazer.
— Você encontrou o alfaiate?
— Sim, Meu Senhor, claro que sim.
— Bom. Diga para vir à minha tenda quartel daqui a pouco. Vou preparar Radan.
— Sim, Meu Senhor.
Leshak entrou rapidamente no quartel carregando Radan. Abadd estalou a língua nas costas de Leshak.
— Isso significa que acabou. Eu devo estar completamente fora de mim… . Merda! Sinto muito, não tive intenção de insultar Sua Alteza.
Sidris bateu nas costas de Abadd, que murmurava melancolia para si mesmo.
— Tenho algo a dizer a você, devo falar mais tarde?
— O quê? É sobre o que o cafetão disse?
— Sim.
— Provavelmente. Não sei se estou pronto para falar nesse estado em que estou agora.
Abadd balançou a cabeça.
— Não era assim que você estava há três anos? Sabe, com a linda filha do ferreiro? Aquela que você cortejou de todo o coração, mas no final ela te chutou e se casou com outra pessoa.
Sidris sabia que a mulher chamada Yadel já tinha noivo. Ele não conseguia se lembrar como Abadd se apaixonou por ela, mas Abadd era o pior entre os três, de qualquer maneira. Abadd se apresentou erroneamente como o general do Príncipe Leshak e visconde Bereri, o que significa que, no final, ele não tinha intenção real de se casar com ela, estivesse ela noiva ou não.
BAM! –
Sidris atingiu Abadd na nuca.
— UGH ! Por que você está me batendo?
— Não é uma boa comparação?
— Esse exemplo não é inapropriado?
— Você quer mais uma chance?
Sidris olhou para Abadd com pena e seguiu em frente. Encontrar um alfaiate que viesse ao campo de batalha para ganhar dinheiro surpreendentemente não foi difícil. Graças a ele, conseguiram voltar a tempo sem maiores problemas, apesar de passarem bastante tempo nas ruas em busca da família de Radan.
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LILITH TRADUZ (@lilithtraduz)