Capítulo 14 – Ordens da Unidão

• Tradução: Mananan
• Revisão: Mananan

O comandante-chefe da União, Kane, assumiu o cargo de seu irmão mais velho há seis meses, pois este, Kyle, sofreu uma tentativa de assassinato e quase morreu. Pouco depois da tentativa de assassinato, Kyle, que ainda estava no hospital, fez uma declaração “voluntária” de que seu irmão mais novo, Kane, assumiria o cargo de comandante-chefe.

A discórdia e a luta entre os dois irmãos já haviam sido resolvidas. Pessoas com visão clara conseguiam enxergar a causa do “assassinato”, mas ninguém ousava mencioná-la. Com a posse do novo comandante-em-chefe, era inevitável que novas e antigas forças mudassem e se chocassem. Kane era obviamente um homem melhor em intrigas com seu próprio povo dentro da União do que em assuntos militares e estrangeiros. Para consolidar sua posição e impedir que Kyle a entregasse completamente, o foco da União nos últimos seis meses esteve na reorganização e mudança de política, o que poderia ser considerado um caos interno. Foi também por meio dessa luta interna que o ímpeto do Império ultrapassou o da União.

Esta visita da União foi a primeira vez que Kane teve contato pessoal com o Império.

O Império não estava tão nervoso com a União como antes. Afinal, o Império ainda estava em uma posição vantajosa. Caso contrário, a União não seria obrigada a visitá-lo pessoalmente. O Imperador compareceu ao banquete do primeiro dia da União e a uma breve entrevista na manhã seguinte. Mais tarde, ele disse ao Primeiro Príncipe e ao Segundo Príncipe que não voltaria a aparecer.

Augus e Ed voltaram para a pequena casa. Todos os dias, os príncipes precisavam ser acompanhados de perto pelos militares nas negociações de transferência de poder com a União. Mas, desta vez, Ed não tinha nenhum assunto para tratar. Como Augus estava ali, ele teve que evitar suspeitas o tempo todo. Augus não falou nada. Ultimamente, ele vinha apenas acompanhando discretamente as notícias da visita da União.

Ed desviou o olhar. Não era seu estilo duas pessoas ficarem constrangidas e em silêncio até se separarem. Pelo menos, ele deixaria uma lembrança melhor para Augus durante o tempo em que se deram bem. Ao ver Augus assistindo ao noticiário, sentou-se ao lado dele generosamente: “Novo comandante-chefe, hein?”

Augus estava tão nervoso que desligou a luz da tela.

“Era necessário? Eu não disse que você não pode assistir ao noticiário”, Ed não sabia se chorava ou ria. “Olha a sua cara. É como se você tivesse sido pego traindo. Se eu não soubesse, pensaria que você está assistindo a vídeos do seu ex ou algo assim.”

“Que piada! Eu… eu nunca o vi antes.” Augus pensou bastante, mas se sentiu culpado por ler as notícias da União na frente de Ed.

Ed ligou a luz da tela sozinho. Ela mostrou Kane, acompanhado pelo Primeiro Príncipe, visitando o palácio. Os dois riram tanto para a câmera que Ed pôde imaginar como seus rostos estavam tensos.

“Para ser sincero, Kane não é tão bom quanto o irmão”, Ed sempre detestou esse tipo de pessoa que se interessava por conflitos políticos. “Guerra não é bom. Ele é muito desconfiado e não tem visão. Ele é bom nesse tipo de coisa. Ah, é tudo problema seu.”

Para ser sincero, Augus não gostava muito do novo comandante-chefe, mas não conseguia concordar com Ed. Só conseguia olhar para a luz da tela em silêncio.

Ed olhou para ele tacitamente e disse com um sorriso: “Ele não fez nada de bom desde que assumiu o cargo. Ele não confiava nas pessoas que Kyle usava antes, fossem funcionários públicos ou generais. As pessoas que ele trouxe para substituí-los têm muita cabeça de vento. Tsk, você realmente não pensa em ficar para servir ao Império? Cedo ou tarde, a União será derrotada com esse tipo de gente no comando.”

A última frase foi uma piada. Não importava quem fosse o titular, Augus, como um soldado leal, não podia trair a União. Se fosse trair a União, já o teria feito muito antes.

“A União é a União, não aquele que está no poder.” Augus não conseguiu refutar quanta perda a série de ações de Kane havia causado à União, e só conseguiu responder sem rodeios.

Ed pensou na resposta por um longo tempo e não se importou. Era melhor dizer que, se Augus abandonasse a União e fosse para o Império, ele daria uma boa olhada em seus sentimentos.

“Bem, se você não fala sobre esses assuntos nacionais, fala sobre si mesmo? O que você vai fazer quando voltar?”

Essa pergunta pareceu doer em Augus. Suas mãos tremeram por um tempo, e ele respondeu: “Usarei inibidores de longo prazo e farei o meu melhor para retornar ao exército, mesmo sendo um civil…”

Embora não fosse culpa de Ed ter ficado assim, ele se arrependeu muito ao ver a aparência de Augus. Ninguém poderia ser mais azarado do que Augus.

“… Desculpe. “

Augus balançou a cabeça calmamente: “Não, é tudo culpa do seu Terceiro Príncipe. Além disso, eu…”

“Você?”

“Nada.” Augus franziu os lábios, desviou o olhar e pousou o olhar no rosto do Primeiro Príncipe, que era semelhante ao do Terceiro Príncipe na luz da tela. Num piscar de olhos, ele se lembrou da sensação de quando quase foi torturado até a morte no laboratório, quando todas as partes do seu corpo foram expostas sem dignidade, e do sorriso do Terceiro Príncipe enquanto ele caminhava com interesse.

“… Mais cedo ou mais tarde eu vou matá-lo.”

Ed olhou para o rosto de Augus e sabia de quem ele estava falando. Augus apertou a mão com raiva, pois se lembrou do passado e foi consolado algumas vezes por Ed. Lentamente, ele soltou o punho fechado.

“Estou com tanto medo. Será que o Major-General Augus vai me matar algum dia?” Ed ergueu as sobrancelhas e tentou fazer uma piada para amenizar o clima. 

Ele não esperava que Augus levasse aquilo a sério e, apressadamente, explicou: “Não vou! Seja o que aconteceu comigo ou não, você não tem nada a ver com isso…”

Ed achou a aparência tão divertida que se aproximou e disse em voz baixa: “Nada? Eu te fodi por dentro e por fora todos os dias. Nem sei quanto sêmen eu coloquei em você. Mesmo assim, você diz que eu não tenho nada a ver com você…”

“Você…” Augus percebeu que Ed estava brincando. Ele não estava acostumado a esse tipo de flerte direto. Fingiu olhar para a luz da tela depois de se encararem. Na verdade, seu corpo teve uma reação fraca quando ouviu Ed dizer “foder”. Essa mudança o deixou confuso e irritado.

“Bem, o que você está olhando? Não finja.” Ed estalou a língua, só para expor o disfarce óbvio de Augus, ao receber uma mensagem criptografada de segundo nível enviada para seu terminal móvel. 

Uma breve mensagem apareceu na tela depois que Ed digitou sua impressão digital e senha: [A reunião com a União está marcada para as 9h da manhã, e o outro lado precisa da presença do major-general Augus, da União. Meia hora antes, os militares irão em um carro para buscá-los e tome medidas de segurança.]

Ed suspirou. Cedo ou tarde, chegaria a esse ponto. Uma dor curta era melhor do que uma longa. “Vamos sair amanhã.”

“Para onde?” Observando a expressão de Ed, Augus já tinha adivinhado.

“O ‘pregão’. A União quer você lá”, respondeu Ed friamente.

O que Augus especulou provou-se verdadeiro, e se Augus dissesse que não estava nem um pouco feliz, isso seria definitivamente mentira. No entanto, a felicidade estava encoberta por uma emoção desconhecida.

Na noite seguinte, eles não conseguiram dormir por diferentes razões.

Ed vestiu o uniforme cedo pela manhã e sentou-se na sala de estar, esperando por ele. Ultimamente, não usava uniforme há vários dias para evitar suspeitas. Olhando para o distintivo de estrela em seu ombro, ele até quis tirar a roupa. Vestir essas roupas significava que estaria fazendo um “acordo” com Augus como general do Império, visando os melhores interesses do Império, e talvez até tivesse que enviar seu ômega para outro alfa.

Augus parecia surpreendentemente calmo, e Ed refletiu sobre isso. Mas se todas as suas expressões estivessem estampadas em seu rosto, ele não seria um major-general. Mas suas expressões sempre faziam Ed sentir como se estivesse indiferente à ideia de partir.

Depois de receber a notícia de que o carro estava quase na porta, Ed ainda não conseguia abri-la. Ele puxou Augus e o pressionou contra a porta, trocando o beijo mais intenso e profundo de todos. Foi tão intenso que Ed parecia estar tentando engolir a outra pessoa para dentro de sua barriga com o beijo.

No final do beijo, Augus respirou fundo e sua expressão finalmente mudou.

“Para você”, Ed tirou um colar fino de algum lugar. Havia um pingente vermelho-sangue nele. Exalava um cheiro fraco e quase imperceptível de Ed. “É sangue coagulado com poder mental. Jogue fora se não quiser mais.”

Por um instante, Augus simplesmente o colocou. Para não chamar a atenção, enfiou-o na camisa e o pressionou contra a pele.

Vendo que estava decidido, Ed não conseguiu dizer nada. Através da fresta das janelas, viu um veículo militar preto do lado de fora, que se dirigiu até a porta e parou de forma estável. Então, eles saíram rapidamente pela porta.

Após entrar no veículo, o soldado e Ed fizeram uma saudação, e o soldado disse: “Desculpe por isso”. Depois de dizer isso, ele prendeu a mão direita de Augus no assento com algemas eletrônicas. 

Ed nunca olhou para baixo, e Augus não reagiu. Ambos sabiam que estavam envolvidos com o Império e a União. Era melhor fingirem que não eram próximos.

Ao chegar ao local, Augus foi levado por um agente especial, enquanto Ed foi para outra sala e levado à mesa de negociação após ser revistado em busca de armas.

Ed fez uma série de saudações no local. Sentados em frente à mesa estavam o comandante-chefe da União, Kane, e os dois generais da União que o acompanhavam. Na ausência do Imperador, o Primeiro Príncipe representava o Império. Para demonstrar sua sinceridade, ele estava acompanhado pelo marechal que havia retornado da linha de frente há algum tempo.

Ed ficou respeitosamente atrás do príncipe. 

Kane disse: “O que você acabou de dizer? Ah, sim, planeta Miral.”

O Primeiro Príncipe sorriu: “Sim, devolveremos o controle deste planeta. Consequentemente, a União abrirá mão do controle dos planetas mineradores, Daly e Aska, para sempre.”

“Sem problemas. Mas se eu não perdi a memória, o planeta Cass ainda está em suas mãos?”

“Ah, sim, acontece que o Major-General Augus também está aqui”, disse o Primeiro Príncipe do Império. “Ouvi dizer há muito tempo que o Major-General Augus foi capturado da União. Ouvi dizer que muitos civis e soldados do exército que o admiravam se ofereceram para libertá-lo.”

“É admirável que Sua Alteza sequer saiba das fofocas no exército da União.” O rosto de Kane era o de sempre, mas ele estava muito chateado. O Primeiro Príncipe pretendia trocar entrega de Cass por Augus. E era verdade que havia vozes no exército torcendo para que Augus pudesse ser libertado. Este general de origem civil sempre foi muito popular, mas o que eles não sabiam era que Augus agora era um ômega inútil. Não valia a pena usar Cass para trocar Augus.

Por um momento, Kane pensou.

Ele não queria abrir mão de Cass. Sendo um planeta raro que produzia biotita, Cass era basicamente o lugar onde a União poderia obter 30% a mais de biotita. Se não tivessem a biotita, que poderia aumentar significativamente a densidade e a força das armas, a União, que já estava em desvantagem, praticamente se desintegraria da noite para o dia. 

“Já mencionei que gostaria de ver o nosso major-general. Ele está aqui agora?” Kane olhou para o Primeiro Príncipe com sinceridade. “Não é que não confiemos em você, só queremos confirmar o corpo do major-general e seu estado mental.”

“Sem problemas.” O Primeiro Príncipe também sabia que o pedido do Império fazia a outra parte se sentir muito difícil, e ele estava muito feliz. Claro, seu pensamento superficial ainda era suficiente, e ele era direto e magnânimo. “Ele está na porta ao lado. Será que uma reunião de cinco minutos é suficiente?”

“Claro.”

O quarto de Augus era semelhante a uma sala de detenção, onde ele se sentava em uma cadeira com outra cadeira vazia do outro lado da mesa.

Quando Kane entrou na sala, Augus se levantou inconscientemente: “Comandante-chefe Ky… Kane.”

“Você ainda acha que o comandante em comando é Kyle?”

“Não, não me atrevo”, respondeu Augus com a cabeça baixa na frente de Kane, que parecia irritado.

Os dois soldados que estavam vigiando Augus saíram, fecharam a porta e a guardaram.

Kane olhou para Augus de cima a baixo. Ele não o conhecia nem um pouco. Em primeiro lugar, Augus não era a pessoa que ele havia promovido e não havia “expressado” nada desde a promoção, o que o deixou muito descontente com ele. Como Augus ainda era qualificado como soldado, Kane conseguiu mandá-lo para a linha de frente usando o melhor de sua capacidade. Infelizmente, desta vez, esse tipo de problema aconteceu.

“Ouvi dizer que você foi transformado em um ômega?”

“… Sim.” Augus ficou envergonhado de aceitar o escrutínio de Kane.

“Você se lembra da tecnologia que eles usaram quando você foi transformado?”

“Isto… Desculpe, este subordinado não viu.”

Kane balançou a cabeça e disse: “Você pode ir para a guerra agora?”

“Se houver inibidores…” Augus levantou a cabeça e respondeu apressadamente. 

Kane interrompeu: “Também ouvi dizer que você foi temporariamente marcado pelo general Ed do Império.”

“…Sim. “

“Você teve alguma palavra a dizer sobre isso?”

Quanto às palavras de Kane, Augus entendeu que ele estava se perguntando se havia divulgado informações confidenciais da União.

“Não! Eu… “

“Por que você não decidiu por outro caminho?”

Diante das perguntas frias de Kane, Augus ficou sem palavras: “Eu tentei, falhei e depois…”

“Por que você não tentou de novo?”

Augus não conseguiu responder.

“O Império quer trocar você por Cass.” Kane viu que Augus estava em silêncio e não continuou com o que acabara de dizer. “O que você acha?”

Cass? Augus sabia que o Império era a boca de um leão. Se ele ainda fosse um alfa, ainda poderia ser útil, mas como um ômega, ele realmente não tinha valor para ser trocado por este precioso planeta energético.

“Há muita conversa na União sobre trazer você de volta.” O corpo de Kane, que estava encostado no encosto da cadeira, inclinou-se repentinamente para a frente. Augus ficou atordoado e se aproximou da mesa, apenas para ouvir Kane abaixar a voz. “Mas não posso entregar a Cass. E não consigo acreditar em alguém que pode ser controlado pelo inimigo com feromônios.”

Kane tirou uma pequena pílula vermelha de seus brincos de ouro.

Augus olhou para o remédio e sabia exatamente o que era. Abriu a boca, mas não conseguiu dizer nada que contradissesse o outro.

“Major Augus, não me envergonhe.”

Continua…