Cachorro Na Gaiola - Novel - Capítulo 5 - Zona de Crime
— …Senhor, Jovem Mestre!
O ômega, que era chamado de jovem mestre, conseguiu levantar suas pálpebras graças às mãos incontroláveis que sacudiam seu corpo. Sem ter que verificar, ele poderia dizer quem estava sacudindo seu corpo. Na casa cercada por muros altos, havia apenas uma pessoa que poderia falar com Heeyeon.
Sem surpresa, quando conseguiu abrir os olhos, um homem que era o mordomo estava parado ao lado da cama.
— Acorde, rápido!
— Ah.
Sentiu seu pulso machucado sendo agarrado deliberadamente. Heeyeon suportou a dor familiar e se levantou.
Quando ele estava quase saindo da cama, o homem que o acordou jogou alguma coisa em cima dele. Em vez de ser cuidadoso, foi um movimento mais próximo de jogá-lo fora como se estivesse jogando lixo fora.
— Se vista.
Lee Yootae, foi quem criou Heeyeon por quase 15 anos, ele jogou as roupas que estava segurando na cama e gritou com urgência. Os olhos do ômega, que acabaram de abrir com um comando firme, voltaram para a cama. Havia muitas roupas sobre o edredom bem arrumado porque ele não tinha o hábito de dormir.
Heeyeon sabia que se demorasse para agir, Yootae iria ficar furioso, mas devido a injeção de feromônio que tomou ontem, não foi fácil voltar aos sentidos. Passou mal a manhã toda até adormecer.
— O que você está fazendo? Mova-se agora!
— Tá bom, já vou me vestir.
Heeyeon desabotoou o pijama e acenou com a cabeça.
O corpo branco sob o pijama estava cheio de hematomas. Alguns eram vermelhos, outros eram azuis. Para onde quer que olhasse, havia um sinal de violência implacável.
No entanto, nem o homem que criou o hematoma nem o homem com o hematoma mostraram qualquer reação, como se estivessem familiarizados com isso. Yootae observou Heeyeon como vinha fazendo por 15 anos, e Heeyeon agiu como se fosse natural ser observado.
Ele vestiu a camiseta o mais rápido possível e uma blusa de malha grossa por cima. E imediatamente trocou sua calça. Meias brancas também foram incluídas entre as peças.
— Esta tarde, vem logo!
Yootae agarrou o pulso de Heeyeon assim que colocou o casaco. Não havia tempo para fechar os botões.
O homem, que casualmente agarrou seu pulso machucado, começou a caminhar em direção à porta. Heeyeon silenciosamente seguiu Yootae, mas seus lábios estavam um pouco estranhos.
— …eu posso sair hoje?
No dia anterior, Heeyeon recebeu uma injeção. Depois da injeção de feromônio, ele ficou quieto no quarto por uns dois dias inteiros. Essa era a rotina de Heeyeon, decidida a partir dos 13 anos de idade.
Na verdade, Heeyeon não sabia a identidade da injeção. Quando Yootae, um mordomo, disse que era uma injeção de feromônio, ele simplesmente acreditou. O beta disse que o ômega deveria ser injetado com feromônios regularmente. Quando a agulha perfurou a pele e o remédio circulou, todo o seu corpo doeu. No entanto, Heeyeon não teve escolha a não ser fazer o que ele mandou. Viveu assim desde muito cedo, por isso não havia motivo para recusar.
— Por favor, não faça perguntas, apenas me siga em silêncio.
Normalmente, ele teria sido golpeado pelo homem por responder, mas Yootae estava estranho hoje. Seu rosto mal-humorado era diferente do seu rosto normal. Ele se moveu com pressa, branco como se estivesse sendo perseguido por algo.
Os passos do homem eram tão rápidos que Heeyeon tropeçou várias vezes. Cada vez que Yoontae puxava seu braço, doía como se seu braço fosse ser arrancado, mas Heeyeon tentou manter o ritmo. Não sabia o que estava acontecendo, mas acha que deve ter feito algo errado.
Ao sair para o jardim, o vento frio bagunçou seu cabelo. O ar que penetrava em sua nuca era tão frio quanto o vento. Mesmo que não estivesse quente, o suor estava se formando na testa de Yootae.
O lugar onde ele finalmente parou foi na frente de um carro surrado. Heeyeon notou que era um carro antigo que não combinava com o belo jardim que ele viu pela primeira vez.
Yootae abriu a porta traseira do carro e empurrou Heeyeon dentro. Estava nas mãos de um homem impiedoso que o tratava como se fosse despachar uma carga.
— Vo…você tem um carro?
Heeyeon fez uma pergunta pela primeira vez. Ele não se lembrava de ter dirigido um carro. Mais precisamente, ele era uma pessoa que não sabia andar de carro. Foi proibido sair de casa.
O único lugar em que ele poderia pisar era dentro destas paredes.
Quando Yootae não respondeu, Heeyeon balançou as mãos e verificou o assento da frente. Um estranho estava sentado no banco do motorista.
Exceto por Yootae, era extremamente raro Heeyeon falar com os funcionários, mas ele se lembrava de todos os seus rostos. Foi definitivamente a primeira vez que viu aquele rosto.
— Jovem mestre.
— Hm?
— Preste atenção.
O mordomo, que cuidava de Heeyeon, entrou no carro. Era inverno e ele estava parado com os pés na grama seca. Graças a ser jogado de lado no banco do carro, Heeyeon foi capaz de enfrentar Yootae. O homem com quem esteve por 15 anos agarrou seu braço esguio com uma mão forte. Embora os hematomas doessem devido à força do aperto, Heeyeon olhou para ele silenciosamente em vez de soltar sua mão.
— Quando você for, haverá um alfa.
— …alfa?
Os lábios do ômega tremeram com a palavra alfa.
— Sim, um alfa dominante.
Yootae não se importou com a expressão ansiosa de Heeyeon, apenas cuspiu o que tinha a dizer. O rosto do Beta de meia-idade era uma mistura de ansiedade, urgência e leve aborrecimento.
— Se lembra de tudo o que eu ensinei para você?
— Sim.
— Fala então.
Yootae era um mordomo que administrava a vida de Heeyeon em geral. Ele observou Heeyeon, o neto do presidente Jeong, desde o momento em que ele acordava até adormecer, observando cada movimento seu. O que ele ensinou a Heeyeon sob o pretexto de educação, era como uma gota no oceano.
— Ouça o alfa.
— E?
— Se alfa quiser que eu faça alguma coisa…
— Você deve obedecer. Entendeu?
— Sim.
Heeyeon acenou com a cabeça obedientemente. Não era algo novo porque o mordomo sempre dizia isso. Assim que Yootae tentou fechar a porta do carro, Heeyeon abriu a boca dizendo.
— Ah.
— Jovem Mestre. Estou indo embora…
— O presidente, sabe?
Foi uma pergunta cautelosa. Isso não irá acontecer, mas se o presidente souber, ele pode ter problemas novamente. Heeyeon estava acostumado a ouvir insultos, mas queria evitar ficar preso em um armário onde mal pudesse mexer os pés.
O rosto de Yootae ficou distorcido por um instante. Ele suspirou e arrumou seu cabelo desgrenhado, olhou diretamente para Heeyeon e perguntou.
— Você confia em mim, não é?
Heeyeon assentiu. O homem que sempre batia nele, acreditava que a violência fazia parte da educação. Heeyeon acreditava que a causa da violência de Yootae era sempre sua culpa. O homem que te batia sempre dizia, ‘eu não tive escolha’ então não restava outra opção a não ser acreditar.
Havia alguns funcionários entrando e saindo da casa, mas Yootae era o único com quem Heeyeon interagia. Heeyeon não conhecia ninguém além do mordomo, então Yootae era o único em quem ele podia confiar.
— Claro que sim, você sabe disso.
Heeyeon se lembrou do rosto de seu avô Jeong.
— Ah, dezembro…
Pensando bem, já é dezembro. Sempre que o presidente Jeong via Heeyeon, costumava dizer: ‘Em breve você terá 20 anos.’ ‘Quando dezembro chegar, acho que será a hora de vender você.’
— Qualquer forma, quando você acordar, vai encontrar o alfa.
— O quê? Como assim acordar?
— É um alfa dominante extremamente raro, então você vai reconhecer na hora.
— Mais…
— Espero não ver você de novo, jovem mestre.
Uma mão forte puxou o corpo magro por trás. Seu nariz e boca estavam todos cobertos sem espaço para resistir.
Foi rápido perder a consciência.
~~~
Quando seus olhos se abriram, se deu conta da escuridão.
— Urgh…
Heeyeon fez um som de dor e estremeceu o corpo. Só quando sentiu o toque do cobertor quente cobrindo seu corpo é que percebeu que estava sonhando. Depois de piscar algumas vezes para sair do pesadelo, viu a paisagem pela janela ampla.
Ele queria adormecer enquanto observava a visão noturna, para que pudesse ver o céu dos andares superiores, ele decidiu não fechar as cortinas. O céu ainda estava azul escuro. Era a luz do amanhecer, mas considerando a hora do sol de inverno, parecia manhã.
— Heeyeon-ah.
— …
Heeyeon, que estava olhando fixamente para o céu, moveu seu corpo para a voz atrás de suas costas.
— Você teve um pesadelo?
O alfa dominante, que Yootae disse, olhou para ele e perguntou afetuosamente. A mão grande do homem tocou o cabelo preso em sua testa.
— Uh…
Heeyeon pensou que tinha que se levantar imediatamente, mas de alguma forma não conseguiu mover seu corpo. Ele finalmente relaxou ou algo parecido. Se sentia como se estivesse perdendo todas as suas forças, da cabeça aos pés.
Em vez de pressionar Heeyeon, Yeon apenas olhou para ele. Era um olhar de quem parecia estar se divertindo.
Heeyeon se mexeu um pouco. Algumas perguntas de repente passaram pela sua cabeça. Em vez de responder à pergunta se ele teve um pesadelo, olhou para Yeon e mexeu as mãos nervosamente.
— CEO.
— Hm.
— …foi você quem me comprou?
Questionando sobre o que ele estava curioso, Yeon inclinou um pouco a cabeça e revirou os olhos levemente. Foi só então que Heeyeon pôde notar uma cicatriz leve na pálpebra esquerda do homem. A cicatriz afiada combinava com os incríveis olhos do alfa. Heeyeon respirou rapidamente.
— Não.
Foi só quando a resposta de Yeon saiu, que a respiração descompassada de Heeyeon, normalizou.
— Não?
— Eu não comprei você do presidente Jeong, eu roubei.
— o quê…?
— Para ser mais exato, a Sra. Nam roubou você e me deu.
Heeyeon piscou algumas vezes tentando interpretar o significado da palavra e então lentamente saiu do cobertor. A pergunta: ‘Um alfa pode roubar um ômega?’ passou pela sua cabeça. Naturalmente, se lembrou do que o mordomo disse: ‘O ômega é como um objeto.’ Não seria impossível roubar coisas que estivessem disponíveis para compra e venda.
— Então…
Yeon olhou atentamente para o ômega sentado na cama. Cabelo castanho claro foi a primeira coisa que chamou sua atenção. Abaixo dos cílios finos e longos, as bochechas brancas de aparência macia se erguiam, o nariz fino e os lábios lisos ligeiramente carnudos como as bochechas.
Ele era um ômega que não tinha a intenção de mostrar o quão bonito era, mesmo que estivesse liberando feromônio inconscientemente. Aos olhos do alfa, Heeyeon era apenas uma criança.
— Heeyeon-ah.
O pijama era maior do que Yeon pensava, então nos braços estavam compridos. Mas ainda assim, era possível ver uma contusão protuberante na pele branca. Yeon abriu a boca lentamente.
— Hm.
— Eles disseram quem compraria você?
Ele fez uma pergunta cuja resposta ficou clara imediatamente. Presidente Jeong, os pensamentos mais íntimos do velho alfa são desconhecidos, mas estava claro que ele planejava usar Heeyeon para expulsá-lo. É um plano completamente equivocado, porém…
— Ah, o presidente disse que um alfa dominante iria me comprar…
Um alfa dominante e próximo do Presidente Jeong.
Yeon torceu os lábios. Não sabia quem era o alfa, ainda mais um alfa dominante, o que não era muito comum. Além disso, um que pode ser próximo do Presidente Jeong. Yeon chegou a conclusão que não tinha ideia de quem segurava a mão do velho.
— Uh. E você?
— Hm?
Yeon falou calmamente, como se estivesse lidando com uma criança.
— Você não está com fome?
Heeyeon ficou brevemente perturbado com a pergunta amigável. Mas percebeu que estava com fome porque não tomava café da manhã a um bom tempo. Mas não deveria dizer que estava com fome. Aprendeu que era errado dizer isso.
Heeyeon não sabia se estava ou não tudo bem, e pensou no kimbap triangular que Yeon comprou para ele na noite anterior. Para ser honesto, não pensou que teria problemas como antes.
— …estou com fome.
Eventualmente, Heeyeon respondeu em voz baixa. Yeon sorriu e virou as costas quando viu seus dedos desajeitados.
— Venha.
Heeyeon seguiu o homem e saiu do quarto. Indo um pouco mais para dentro, apareceu uma cozinha separada. A comida já estava servida na mesa. Heeyeon se sentou em silêncio na cadeira que Yeon puxou ao passar. Uma comida coreana saborosa foi servida delicadamente em um prato de cerâmica.
— Obrigado pela refeição.
— Bom garoto. Temos mesmo que agradecer por tê-la.
Só depois de perceber que o homem segurava uma colher, Heeyeon pegou a colher. Quando bebeu a sopa, seu estômago esquentou. Desta vez, também colocou arroz na boca e mastigou. Tudo estava uma delícia.
Yeon olhou para a bochecha lenta do ômega e puxou o canto de sua boca. Passou pela sua mente ontem, mas achou interessante vê-lo mastigando. Heeyeon, que engoliu o arroz, pegou o tofu redondo macio na frente dele e o colocou em sua boca. Foi muito fofo ver sua bochecha se movendo diligentemente, embora não fosse algo para mastigar por um longo tempo.
— É bom?
— Sim.
— Gosto de “coisas” iguais a você.
Enquanto Yeon colocava o resto do tofu na boca, Heeyeon franziu a testa com delicadeza. O que isso significa? Para ele, o tofu nada mais era do que comida branca e macia.
Heeyeon estava prestes a perguntar o que significava, mas quando viu que Yeon não estava mais falando com ele, se concentrou apenas em comer.
A colher que Heeyeon segurava em suas mãos, fez cócegas.
Deve ter sido porque era a primeira vez comendo com um estranho.
Era hora de terminar o café da manhã impecável.
— Heeyeon-ah.
— Hm.
Yeon chamou seu nome com uma voz educada e amigável. Heeyeon aceitou a xícara de chá que foi entregue a ele. Ao contrário da xícara do homem, que cheirava a café, a xícara de Heeyeon tinha um cheiro doce. Curioso sobre a identidade, ele ergueu um pouco mais a xícara e a cheirou, o homem sentado à sua frente sorriu. Depois de verificar o cheiro doce e olhar para ele, Yeon sussurrou suavemente com um rosto amigável.
— Eu vou usar você.
Foi a ameaça mais doce que Heeyeon já ouviu.
— Tudo bem.
Mesmo com as palavras de Yeon, Heeyeon acenou levemente com a cabeça como se nada tivesse acontecido e trouxe a xícara de chá quente aos lábios. Não se esquecendo de responder detalhadamente. Quando abaixou seu olhar até a metade, viu um líquido verde claro. Pensando que poderia estar quente, Heeyeon juntou cuidadosamente os lábios e inclinou lentamente o copo. Um líquido de temperatura moderada molhou seus lábios e passou suavemente pela ponta da língua. Tinha gosto de chá verde amargo.
Concentrando-se em beber o chá, ele não percebeu a sobrancelha de Yeon se erguendo.
— Você deveria dizer, não.
Como se tivesse feito uma cara misteriosa, Yeon sorriu e acenou com a cabeça. Não era um conselho da pessoa que declarou querer usá-lo.
— O quê? Por quê?
Heeyeon perguntou com os olhos bem abertos. Com a mudança da expressão facial, Yeon olhou para Heeyeon enquanto bebia café. Foi porque uma expressão diferente veio à mente, como a primeira vez quando se encontraram no contêiner e Yeon provocou chamando-o de criança.
Yeon agradeceu a resposta, e deu uma risada. Foi a primeira vez que viu um ômega com uma expressão cheia de emoção. Os olhos dóceis ficaram um pouco maiores devido ao choque.
— Então, por quê?
— Fui ensinado que o ômega é usado pelo alfa…
Em resposta à explicação de Heeyeon, Yeon suspirou e colocou a xícara de café na mesa. O barulho e o contato do vidro soaram bastante violentos.
— Quem disse isso?
— O mordomo.
— Foi ele quem bateu em você?
O homem perguntou, tocando a pele branca revelada através do pijama de Heeyeon. Com um olhar assustado, Heeyeon abaixou a cabeça para onde os olhos de Yeon estavam focados. Apesar do pijama ser de botões, a clavícula estava ligeiramente exposta devido ao tamanho demasiado grande do pijama. Era possível ver uma marca azul no local.
— Ah. Sim, fui repreendido por meu erro…
Heeyeon puxou o pijama para cobrir os hematomas. Estranhamente, teve vergonha de ter sido pego com traços de violência. Não importava quando Yootae e seus empregos vissem, mas era vergonhoso pensar que Yeon estava vendo.
Parecia que um segredo havia sido descoberto.
— Erro?
— Sim.
Yeon deu uma olhada no pulso machucado de Heeyeon. Quando levantou o braço para cobrir o hematoma na clavícula, o pijama que cobria seu pulso subiu. Heeyeon não percebeu. Vendo que ele ainda segurava o pijama perto do peito com força, Yeon perguntou.
— Ugh, foi isso?
Houve um tempo em que ele também pensava que tudo era sua culpa. Yeon perguntou em um tom calmo, diluindo a raiva fraca que sentia há muito tempo.
— Aquele filho da puta que você chama de mordomo ensinou isso? Ah, foram ordens do presidente Jeong?
— Você conhece o presidente?
— Huh.
— Ah…
— Eu sei.
Yeon sorriu gentilmente enquanto olhava para Heeyeon.
Achou que seria diferente pela manhã, quando o sol nascesse, mas ele nunca se pareceu com o presidente Jeong. Era incrível como uma criança com uma face tão gentil quanto Heeyeon, compartilha o mesmo sangue com um homem tão nojento, quanto o presidente Jeong. Talvez ele se pareça com seu pai ômega, que está morto agora, ao invés do Presidente Jeong.
E se o pai ômega de Heeyeon se parecesse com o Presidente Jeong? Heeyeon poderia tratar Yeon como agora, fingindo ser doce? Yeon logo percebeu que eram preocupações exageradas e inúteis e afastou a ideia. De qualquer forma, Heeyeon foi uma vítima.
— Heeyeon-ah.
— Hm.
— O ômega deve ser usado por alfa… isso não existe.
Heeyeon piscou ao primeiro som. O dedo que segurava a xícara estava tenso. A ponta de suas unhas rosa ficou branca.
— Alfa também é um ser humano que está sendo usado por outro humano.
Heeyeon olhou para Yeon. Ele estava tão concentrado que nem percebeu a força em sua mão segurando a xícara de chá.
O homem que disse que alfa e ômega são seres humanos, está com o cotovelo apoiado no braço do sofá. Com a cabeça inclinada, seus longos dedos tocaram suas têmporas. Ele tinha uma atitude preguiçosa, como se fosse cair a qualquer momento, mas seu rosto tinha uma expressão forte.
— Então o presidente… por que ele me disse isso?
Heeyeon perguntou como se ele realmente não soubesse. Era uma pura curiosidade que não continha nenhum alerta ou hostilidade para com o alfa.
Ômega é tão humano quanto o alfa.
A voz de Yoontae, que ensinou que o ômega deve dar ao alfa tudo o que deseja, e que a exploração ou subserviência não se aplica ao alfa, veio à mente. As correções de Yeon fizeram ele questionar todas as coisas que aprendeu ao longo de sua vida.
— Ah, nosso Heeyeon é ainda apenas um bebê, não consegue entender essas palavras corretamente. Mais alguma coisa?
Yeon perguntou enquanto se levantava. Ele viveu em cativeiro por muito tempo. No entanto, como um ser humano, não havia como ele não desejar nada. Não importava o quão trivial fosse. O plano para usar Heeyeon para trazer o presidente Jeong não mudou, e ele estava planejando pagar um preço apropriado quando o trabalho fosse concluído.
— Bem…
Assim que algo veio à mente, Heeyeon cuidadosamente abriu a boca .
— Ah, o presidente disse que eu deveria engravidar mais tarde…
Assim que ouviu isso, o rosto do alfa, que permaneceu firme, estava enrugado. Yeon franziu as bochechas enquanto se lembrava do presidente Jeong. Ele ainda tinha o hábito de vender ômegas para gravidez. Yeon sabia que ele estava tentando vender Heeyeon para algum alfa.
O ômega, sentado na sua frente, falava como se fosse natural. O humor de Yeon mudou em um instante. Havia um fraco senso de simpatia ou carinho por Heeyeon. No entanto, em vez de mostrar seus sentimentos, Yeon congelou no lugar e chamou suavemente pelo ômega.
— Heeyeon-ah.
— Hm.
— O que o presidente Jeong deseja, não é o mesmo que você deseja.
Heeyeon fechou a boca quando Yeon claramente explicou a diferença. Ele viveu até agora pensando que o presidente deseja é o que ele deseja. É assim que ele foi ensinado. Quanto mais ele conversava com Yeon, mais se sentia como se estivesse vivendo um mistério.
Yeon esperou calmamente até que Heeyeon abrisse a boca novamente.
— Eu quero… tenho que estar aqui? Não sei…
— Não, se você não quiser.
Com a voz baixa, Heeyeon olhou para Yeon. O homem parecia dócil, mas desde que se lembra o alfa sempre foi assim. Os olhos sonolentos e os lábios protuberantes pareciam todos confirmar isso.
— Viver é chato.
Porém, de alguma forma, viver já não era mais tão chato.
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LILITH TRADUZ (@lilithtraduz) (Doado pela Ah-Ri Novel’s 1 ao 51 )