Cachorro Na Gaiola - Novel - Capítulo 4 - Zona de Crime
Uma voz abafada soou em seus ouvidos. Heeyeon lentamente ergueu as pálpebras. Devido a sonolência, seus olhos estavam nublados como névoa encharcada de água. Ele piscou algumas vezes antes de perceber que havia adormecido brevemente. Depois de ficar preso em um contêiner frio o dia todo, parecia que seu corpo relaxou ao se sentar em um lugar quente e macio.
— …diga isso para a presidente Nam.
Heeyeon revirou os olhos ao ser tocado enquanto estava no banco do carro. A voz baixa que estava em seu ouvido parecia ser a voz de Yeon. Como se sentisse o olhar, Yeon inclinou a cabeça ligeiramente em sua direção. Os olhos do homem se curvaram lentamente e um lábio se levantou em um ângulo.
— …não. Espero que ela tenha uma ótima noite.
Ele estava falando com outra pessoa, mas Heeyeon pensou que talvez Yeon estivesse falando com ele. No entanto, seu olhar logo se desviou, então esfregou os olhos com as costas da mão, pensando qual era seu erro. Heeyeon, fechou seus olhos e se permitiu deixar a mente vagar.
Heeyeon esfregou os olhos devagar o suficiente para sentir a textura dos cílios e endireitou a parte superior do corpo que estava largado no banco do carro. Quando virou sua cabeça para fora da janela, viu uma paisagem desconhecida ao seu redor. Como se estivesse entrando em uma área residencial, o carro começou a desacelerar lentamente. Prédios altos eram densamente erguidos e havia alguns lugares onde as luzes estavam acesas, embora fosse tarde. Heeyeon olhou para o mundo que não conhecia com um rosto inexpressivo.
— Não sabia que crianças costumam roncar quando estão dormindo.
— Ah…
Reconhecendo que Yeon estava falando dele, lentamente virou sua cabeça para o homem. Estava mais escuro do que quando se conheceram. Não conseguia ver o rosto do homem direito, mas de alguma forma achou que ele estava sorrindo e se divertindo com a situação.
— Estava com muito sono, por isso dormi.
Heeyeon franziu os lábios, mas desta vez não demorou para responder. Foi a primeira vez que dormiu na frente de alguém que não fosse o mordomo, e também foi a primeira vez que ouviu sobre seus hábitos de sono. Mesmo que fizesse algum ruído enquanto dorme como ele disse, não haveria como saber, já que não tinha feito isso antes.
Heeyeon ponderou por um momento se os ruídos estavam assim, reagindo ao que tinha em seu coração. Como foi ensinado, ele não podia ir contra as intenções de um alfa. Além disso, no futuro, ele teria que se igualar ao gosto do homem sentado ao seu lado, mas não conseguia controlar o som de sua respiração enquanto dormia.
— O som da respiração não é algo que eu possa controlar…
Heeyeon lentamente piscou os olhos e murmurou as palavras. Foi uma resposta um tanto diferente da expectativa de Yeon, que esperava que ele respondesse: “Não sou criança”, como algumas horas atrás. Ele até franziu as sobrancelhas em descrença no que acabou de ouvir. Os olhos do alfa se estreitaram em resposta à reação inesperada. ‘Respirar não é algo que ele pode controlar?’ Yeon entendeu o significado da resposta Heeyeon um momento depois.
Yeon disse para ele não ser fofo algumas horas atrás, mas ele estava agindo fofo de novo.
— Heeyeon-ah.
Ele chamou Heeyeon com uma voz suave. Mas ao contrário de sua voz suave, seus olhos semicerrados encararam seu rosto com uma expressão muito séria.
— Hm.
— Você vai me dar muito trabalho.
Yeon inclinou a parte superior do corpo um pouco em direção a Heeyeon. Houve um leve som de riso em sua voz suave.
Independentemente do tipo, ele gostava do que dava muito trabalho. Talvez por causa de seu hábito de viver ferozmente, sempre ficava entediado facilmente se não tivesse nada para fazer. O tédio era uma das coisas que ele odiava mais do que tudo.
Talvez seja por isso que Yeon achou esse momento muito agradável. Mesmo ele não sabia qual era a causa da sua satisfação, ser capaz de manejar um ômega inocente, a satisfação de ter o sangue do presidente Jeong em suas mãos ou ser capaz de fazer o que quiser. Ele estava apenas supondo vagamente que poderiam ser todas as opções.
— Eu…
De repente, o carro parou completamente. A resposta de Heeyeon veio tarde, então as luzes do carro se acenderam e o interior ficou mais claro em um instante. Graças a isso, Yeon pode ver as mãos do ômega tremendo. Os dedos brancos se moviam freneticamente como se estivessem ansiosos. As unhas das pontas de seus dedos estavam todas rosadas.
— Não vou deixar você ir muito longe.
Yeon olhou para as mãos dele e depois para seu rosto. Os lábios apertados fizeram suas bochechas brancas saltarem. Ele suprimiu a vontade de pressionar aquelas bochechas brancas e perguntou em um tom amigável.
— Quem mais, além de mim, disse que você dá trabalho?
— O mordomo e o presidente…
Heeyeon deixou escapar o final de seu discurso. Sempre houve uma série de violência por trás das palavras de ‘muito trabalho’.
O ômega, que estava olhando para as mãos, ergueu a cabeça em direção ao Yeon que abriu um sorriso. Contrariando a expectativa de ter uma expressão feroz como a do mordomo ou do presidente, o homem sorria de maneira tola.
Foi uma sorte que o interior do carro estava mais claro do que antes. Heeyeon era perspicaz e intuiu o fato de que o humor do alfa não estava assim tão ruim.
— Entendo, agora eu também, não é mesmo?
Yeon respondeu levemente e endireitou a parte superior do corpo inclinada. Imediatamente a porta se abriu do lado de fora. Mesmo sendo um estacionamento subterrâneo, o vento frio do inverno soprou.
Em vez de sair imediatamente, ele inclinou a cabeça ligeiramente, tocando a bochecha de Heeyeon.
— Não se preocupe, Heeyeon.
O calor do sorriso do homem se estendeu por todo seu rosto. Heeyeon que o encarava, notou seus olhos gentis, ele ainda segurava seu pulso, embora uma de suas grandes mãos tocasse sua bochecha. Os lábios, que estavam bem fechados, abriram e fecharam novamente.
— Gosto de cuidar das coisas.
Yeon tirou a mão que estava na bochecha de Heeyeon e riu brevemente. Então imediatamente deu as costas e saiu do carro. Ao mesmo tempo, a porta do lado onde Heeyeon estava se abriu. Uma brisa fresca soprou em suas roupas, mas em vez de sair, Heeyeon olhou para as costas largas de Yeon.
— Saia.
Antes de fechar a porta, Yeon se virou para ele e deu uma breve ordem. Heeyeon saiu do carro naquele momento.
— Vamos.
Yeon acenou com a cabeça e ordenou brevemente. Heeyeon, que estava parado esperando, começou a andar para dentro, atrás do alfa, que chamou. O motorista não o seguiu, talvez fosse a hora de sair do trabalho. Ele deu às costas ao homem e voltou para o carro.
— Nunca pensei que teria um ômega em minha casa.
Yeon murmurou para si mesmo e apertou o botão do elevador. Sem saber como reagir às palavras do homem, Heeyeon olhou para a enorme porta à sua frente. Ele não estava familiarizado com o grande espaço subterrâneo cheio de carros, as portas de ferro bem fechadas e o painel de controles, que mudava de número a cada minuto.
Em pouco tempo, uma porta enorme se abriu dos dois lados deixando ele boquiaberto.
Espaço fechado.
Heeyeon franziu a testa ligeiramente e encolheu os ombros. No entanto, quando Yeon adentrou o espaço com uma cara indiferente, ele seguiu e entrou no elevador.
Ao contrário de vagos temores, o espaço fechado era quente, agradável e cheirava bem.
Logo a porta se fechou e o elevador começou a subir em alta velocidade.
— …
Em resposta ao movimento inesperado, Heeyeon, sem saber, agarrou a ponta do paletó de Yeon com as pontas dos dedos. Uma barra de segurança de formato luxuoso estava enrolada na parede, mas instintivamente ele se agarrou ao homem que parecia um pouco familiar.
Heeyeon apenas olhou para o painel de controles com uma sensação desconhecida de seu corpo se erguendo. Sua cabeça sabia que era um elevador, mas se sentiu estranho porque era a primeira vez que entrava em um.
— Criança.
— Hm?
Yeon sorriu e cruzou os olhos ao perguntar.
— Quer que eu segure sua mão, Heeyeon?
Com a pergunta repentina, Heeyeon seguiu o olhar do homem e abaixou a cabeça. Suas mãos agarraram a ponta do paletó. As luzes fortes no elevador faziam as mãos brancas parecerem menores, contrastando com um terno escuro.
— Ah, desculpa.
Heeyeon abaixou a cabeça enquanto soltava as roupas de Yeon.
— É a primeira vez que entra em um elevador?
— Sim.
Yeon olhou para Heeyeon com um rosto de profundo interesse. Ele sabia que o presidente Jeong criou ele em cativeiro, mas achou que era uma expressão metafórica, afinal. Claro, se você quiser evitar os olhares dos outros, é normal mantê-lo escondido em casa, mas…
Ele perguntou em um tom insignificante, relembrando as reações triviais momentâneas de Heeyeon.
— Você nunca saiu de casa?
— Já sim.
Em consequência à resposta gentil, Yeon estendeu a mão relaxadamente. Então gentilmente entrelaçou a mão minúscula que balançava sob a coxa do ômega. Heeyeon não resistiu, mas estremeceu ao toque. Logo, uma voz baixa porém determinada saiu de seus lábios.
— Tudo bem se eu te tocar…?
Ele tinha acabado de confirmar que o elevador não era perigoso. O painel estava se aproximando do número que Yeon pressionou. A sensação de voar alto não era familiar para Heeyeon, por isso agarrou Yeon sem perceber.
— Uma criança tem que segurar a mão de um adulto ao andar de elevador.
Heeyeon vagamente percebeu que Yeon estava zombando dele. Mas em vez de retrucar que não era uma criança, olhou para a mão que o homem segurava. Foi a primeira vez que segurou a mão de alguém, exceto pelas próprias memórias de infância.
Heeyeon movimentou o dedo ligeiramente sem motivo devido ao contato desconhecido com outra pessoa. Graças a isso, as pontas dos dedos passaram pelas costas da mão de Yeon. Ao contrário das suas, ele tinha mãos grandes, ásperas e firmes.
— Chegamos.
Heeyeon se assustou com o som mecânico repentino e deu um passo para trás. Com a reação inesperada, Yeon sorriu novamente e puxou a pequena mão que estava presa a sua. Ao contrário de suas mãos ásperas, era muito macia.
— Tenho muito que ensinar a você.
Heeyeon não ouviu o murmúrio do homem enquanto olhava ao redor do espaço desconhecido.
Quando saiu do elevador, um corredor vazio apareceu. Havia uma porta na extrema direita e o lado oposto estava bloqueado por uma parede. Parecia que aquela era a única porta neste andar.
O homem que se aproximou da porta segurando a mão de Heeyeon colocou a mão no leitor digital. Logo a porta se abriu com um bipe. Heeyeon obedientemente seguiu Yeon para dentro.
Era uma visão bem diferente de sua casa, mas o local em que o homem morava era claro. As luzes estavam acesas na sala de estar e o ar quente pairava ao redor da casa. Parecia que alguém já tinha estado lá.
— Crianças devem ir cedo para a cama.
Yeon disse, abrindo a porta. Em vez de entrar direto, Heeyeon parou na frente da porta. Como se estivesse pensando em algo, ele olhou para Yeon, que abriu a porta devagar então perguntou.
— …e você?
As bochechas brancas estavam queimando de vermelho. Depois de ficar preso em um recipiente frio o dia todo, quando ele entrou em um espaço quente, suas bochechas pareciam esquentar.
— Criança, preciso dar tapinhas nas suas costas até você adormecer?
O homem que tentou dizer algo malicioso, zombou de Heeyeon em outras palavras. Heeyeon fez uma ligeira careta para as observações sobre a forma que estava sendo chamado.
— Não foi isso que eu quis dizer. Se eu dormir aqui, você…
— É um quarto de hóspedes, então não se preocupe. Há um banheiro lá dentro, se lava. Tenho certeza de que prepararam roupas.
Yeon acendeu a luz do quarto escuro e apontou para o interior com a ponta do queixo. Seguindo seu movimento, Heeyeon virou a cabeça. Uma sacola de compras foi colocada em frente à porta que se acredita ser um banheiro.
— Ah, obrigado.
Heeyeon cuidadosamente tirou o casaco e agradeceu. Enquanto observava o ômega em movimento, Yeon olhou para o relógio preso em seu pulso. O amanhecer estava próximo.
O homem que verificou a hora e foi embora. Primeiro iria conversar diretamente com a presidente Nam. Decidiu então adiar sua conversa com Heeyeon para amanhã.
— Heeyeon-ah.
Como se algo de repente viesse à mente, Yeon torceu a parte superior do corpo até a metade e lentamente chamou Heeyeon.
— Hm.
— Durma bem.
— Ah…
Yeon olhou brevemente para o rosto gentil e então fechou a porta. O silêncio veio imediatamente.
— Durma bem também.
Heeyeon disse uma saudação tardia com a porta fechada à sua frente. Então ele lentamente entrou no quarto.
Depois de alguns minutos parado e olhando ao redor, Heeyeon cruzou o quarto em um ritmo lento. Pela grande janela, cenas noturnas coloridas inundaram a escuridão. Era uma paisagem que transbordava como se fosse chover.
— É muito bonito.
Heeyeon colocou as mãos na janela, encostou a testa no vidro frio e murmurou em voz baixa.
O cheiro do mar e a visão do rosto do alfa que trouxe até aqui flutuou em sua cabeça.
Ele não parecia que iria conseguir dormir facilmente.
Quando olhou para fora, a visão noturna da cidade caia e logo o sol iria aparecer.
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LILITH TRADUZ (@lilithtraduz) (Doado pela Ah-Ri Novel’s 1 ao 51 )