Traços - Novel - Vol 1 - Capítulo 7
Na terça-feira à tarde, Jiheon terminou seu trabalho mais cedo e organizou seu espaço de trabalho. Assim que desligou o computador e encaminhou as chamadas para o celular, o Gerente Nam apareceu por cima da divisória ao seu lado.
— Sr. Jeong, está saindo agora?
— Sim, eu volto mais tarde.
— Tudo bem se você não voltar, basta trazer Jaekyoung com você.
— Vou sair rapidamente e trabalhar a noite toda.
O Gerente começou a rir. Era claro que as palavras do Gerente Nam eram uma piada. Ele sabia disso, mas, por enquanto, não podia se dar ao luxo de aceitar a piada.
— Gerente, estou saindo.
Jiheon informou ao seu chefe antes de sair do escritório.
Ao sair do prédio, o calor sufocante imediatamente o asfixiou. A previsão era que o verão fosse mais quente do que o normal e, com a chegada de julho, a temperatura diurna em Seul subiu para 34 graus.
Jiheon chamou um táxi em frente ao prédio da empresa. Como era uma reunião importante, ele escolheu cuidadosamente sua camisa e gravata e não fumou nenhum cigarro durante o dia todo, com medo de que isso deixasse um cheiro ruim nas suas roupas. No entanto, o sol escaldante estava tornando difícil manter a calma.
— Por favor, para Hotel Jamsi.
Ele mencionou o nome do hotel ao motorista do táxi, que prontamente ligou o carro sem verificar o navegador.
Jiheon verificou a hora mais uma vez e se recostou no banco. Enquanto o ar condicionado forte resfria seus antebraços expostos, Jiheon cruzou os braços e olhou pela janela.
Mesmo tendo que fazer isso como parte de seu trabalho, ainda não parecia totalmente real.
O fato de que ele iria se encontrar com Jaekyoung era inacreditável.
Jaekyoung, que era conhecido por nunca dar ouvidos a nenhuma empresa famosa, mesmo que elas implorassem para se encontrar com ele, estava disposto a dar uma chance à Spoin, uma agência com apenas 5 anos de existência. Até mesmo o motivo pelo qual Jaekyoung fez isso foi por causa de Jiheon. A última parte era a mais inacreditável.
Não era esse o caso? Já fazia uma década, e o máximo que eles faziam era se cumprimentar de vez em quando. Jiheon não era próximo o suficiente para se considerar amigo de Jaekyoung, e também não se lembrava de ter feito nada significativo por ele.
Portanto, receber a ligação ontem pegou Jiheon de surpresa. Ele não tinha ideia de que a mãe de Jaekyoung ficaria tão feliz em vê-lo.
Mas, pensando bem, ela sempre foi assim. No bom sentido, ela era excepcionalmente sociável; no mau sentido, ela agia de forma muito amigável, mesmo com estranhos. Ela era várias vezes mais amigável e sociável do que o filho, como se tentasse compensar o jeito rude de Jaekyoung.
Em particular, ela era especialmente assim com Jiheon.
Mesmo à distância, ela nunca agia com indiferença e o cumprimentava calorosamente. Ela perguntava como ele estava, sobre sua lesão no ombro e dores nas articulações, e até falava sobre materiais para trajes de banho, nos quais ele não estava particularmente interessado. E, no final das conversas, ela sempre dizia:
— Espero que Jaekyoung cresça logo e treine com você, Jiheon. Você não sabe o quanto Jaekyoung gosta de você. Viemos para cá depois que ele viu seu vídeo do Campeonato Mundial na TV e quis treinar no mesmo lugar que você.
Ela deve ter dito isso vinte vezes, como se fosse a primeira vez. Jiheon sempre respondia com um alegre: — Ah, sério?
Essa resposta se tornou um padrão para ele, porque, além da mãe de Jaekyoung, quase todos os pais de alunos do ensino fundamental e médio seguravam Jiheon e diziam coisas semelhantes.
Naquela época, quando Jiheon acabou de ganhar uma medalha no Campeonato Mundial e se tornou um assunto em alta, muitas crianças começaram a se matricular no centro de natação onde ele treinava. A equipe do centro ficava incomodada com os frequentes pedidos dos pais, perguntando se seus filhos também poderiam ser treinados pelo técnico de Jeong Jiheon.
Mesmo assim, era raro alguém se mudar para Ilsan como Jaekyoung fez. Viajar diariamente de uma distância tão longa seria cansativo. A maioria dos pais de províncias distantes preferia deixar seus filhos com parentes próximos ou ter apenas um dos pais acompanhando a criança.
No entanto, a mãe de Jaekyoung decidiu corajosamente mudar toda a família para Ilsan. Jiheon não sabia como o pai de Jaekyoung reagiu a essa decisão, mas era evidente que seu irmão mais velho não estava feliz.
Como ele poderia estar? Ele se mudou de Seul para Ilsan do nada por causa do irmão mais novo. Na época, o irmão de Jaekyoung era um estudante do ensino fundamental. Não havia como ele ficar feliz com o fato de que o foco da família agora girava em torno do irmão mais novo, quando ele já era sensível e preocupado.
Quase todos os dias depois da escola, o irmão de Jaekyoung ia ao centro de natação esperar o treino do irmão terminar para que pudessem ir juntos para casa no carro da mãe.
Jiheon observava várias vezes o irmão de Jaekyoung sentado na sala de espera, aguardando a mãe e o irmão. Ele era parecido, mas diferente de Jaekyoung, e estava sempre olhando para o seu bloco de notas com insatisfação.
Ver isso lembrava Jiheon de sua própria irmã mais nova, que frequentemente reclamava que sua mãe só se importava com ele. No entanto, ao contrário da mãe de Jaekyoung, a mãe de Jiheon não gostava muito de ir à piscina com frequência porque seu marido era militar e isso poderia causar confusão.
Naturalmente, a mãe de Jiheon não seguia o padrão típico de outros pais que buscavam seus filhos no treino. Ela se comunicava principalmente com o treinador de Jiheon por telefone. No entanto, a irmã de Jiheon parecia se sentir decepcionada com a dieta da família, que era centrada em seu irmão, e com a atmosfera familiar que priorizava a agenda de competições de Jiheon.
Jiheon não conseguia entender os sentimentos da irmã quando era jovem. Em comparação com as famílias de outros atletas, a sua não era nada, o que fazia considerar o comportamento da sua irmã estranho.
No entanto, à medida que crescia, ele percebeu os desafios enfrentados pelos pais de filhos atletas e começou a entender a decepção da sua irmã.
Talvez fosse por isso. Quando via o irmão de Jaekyoung sentado sozinho na sala de estar, Jiheon sentia pena dele. Ele tinha a mesma idade da irmã de Jiheon, o que o fazia sentir ainda mais empatia. Jiheon o cumprimentava amigavelmente e, ocasionalmente, oferecia bebidas ou lanches.
Então, quando via Jiheon, ele o chamava de “Hyung, hyung” e o seguia por toda parte. Às vezes, ele não soltava Jiheon até o treino terminar.
Agora que Jiheon pensava nisso, ficou claro que o irmão mais velho de Jaekyoung se parecia muito com a mãe deles.
Curiosamente, apesar das interações frequentes com a família de Jaekyoung, Jiheon raramente conversava diretamente com o próprio Jaekyoung. Ele nem cumprimentava Jiheon quando se encontravam na piscina, muito menos conversava.
No entanto, isso era problema de Jaekyoung, não de Jiheon, porque aquele garoto não cumprimentava ninguém no centro de natação, exceto o treinador responsável.
É claro que eles nem conversavam. Jaekyoung apenas fazia suas coisas com uma expressão quase vazia, aparentemente alheio ao que acontecia ao seu redor.
Jaekyoung não era diferente de Jiheon. Ele não cumprimentava Jiheon adequadamente, mas agia como se não o visse quando se encontravam por acaso. Esse comportamento persistia independentemente de onde se encontravam, fosse na piscina, no lounge ou na cafeteria.
Mesmo que Jaekyoung se aproximasse quando Jiheon estava conversando com seu irmão, Jaekyoung simplesmente ignorava os dois como se eles não existissem.
Diante desse comportamento, Jiheon achava difícil acreditar nas palavras da Sra. Shim quando dizia que Jaekyoung gostava muito dele e pedia Jiheon para ir à piscina treinar com ele. Não seria melhor se ele o desprezasse e o ignorasse?
Cerca de meio ano depois, no dia em que Jiheon deixou o centro de natação pela última vez com sua bagagem, ficou surpreso quando Jaekyoung o seguiu até fora e o alcançou.
— Hyung, você realmente vai parar de nadar?
Jiheon sentiu uma mistura de surpresa e até mesmo vergonha pela rapidez com que o garoto correu atrás dele.
Ele gostaria de poder simplesmente dizer: “Sim, dê o seu melhor”, como fazia com outros atletas, mas não conseguiu responder e ficou apenas olhando para Jaekyoung, se sentindo perplexo.
— Por que está desistindo? É porque você é um beta, hyung? Você não é um alfa, então está desistindo?
Talvez presumindo que Jiheon não respondeu de propósito, Jaekyoung agarrou o braço dele com ainda mais força.
Jiheon não se importava com o tom insistente ou com a conclusão que Jaekyoung de alguma forma tirou. Ele já tinha passado por isso muitas vezes. Toda vez que ele disse ao seu treinador, aos dirigentes da federação, aos membros da associação de atletas e ao seu professor da escola que estava desistindo da natação, todos diziam a mesma coisa.
Mas, por alguma razão, no momento em que ouviu isso de Jaekyoung, ele não conseguiu suportar.
‘Não, não é isso.’
O motivo era óbvio.
A razão pela qual ele ficou irritado com as palavras de Jaekyoung era óbvia.
— Hyung, você sabia desde o início, não é? Existem muitos alfas no mundo, mas você ainda é tão alto quanto aqueles atletas alfas e tem um longo alcance. Você é capaz de fazer isso, então por que está desistindo antes mesmo de tentar?
Isso porque quem disse isso foi um menino de 12 anos que havia sido diagnosticado como alfa há poucos dias.
É claro que Jiheon sabia. Não era culpa de Jaekyoung. Afinal, nascer alfa não era algo que se pudesse escolher ou controlar. O próprio Jiheon gostaria de ser alfa se tivesse essa opção.
Portanto, não havia necessidade de reagir fortemente às observações de Jaekyoung. Ele continuaria sendo influenciado pelo que o menino dizia sem conhecer a situação? Ou talvez fosse algo que ele teria que passar no futuro?
Enquanto Jiheon tentava se consolar com esses pensamentos, Jaekyoung continuou falando.
— Mesmo os alfas precisam tomar medicamentos para viver como atletas. Dizem que a medicação é diferente para cada pessoa, então pode haver alguns efeitos colaterais, mas pelo menos você não vai precisar tomar a medicação, hyung.
Com essas palavras, o coração de Jiheon, que mal havia se acalmado, tremeu novamente.
‘Medicação? Você está dizendo que a medicação é um saco? Que diabos? Eu tenho que viver com um chip no meu corpo pelo resto da minha vida, e você pode simplesmente contar com a medicação. ’
As pessoas diziam que quando uma emoção atingia o extremo, ela podia ser expressa de maneira oposta, e isso era verdade.
Jiheon apenas riu das palavras do garoto, ditas sem malícia.
— Ei, nunca vi você falar tanto antes.
Sorrindo, Jiheon removeu a mão de Jaekyoung de seu braço.
— Não ouço sua voz há um ano, mas estou ouvindo tudo hoje.
Jaekyoung tentou segurar Jiheon novamente chamando-o de “Hyung”, mas Jiheon fingiu levantar a bolsa que carregava no ombro, evitando naturalmente o toque. E ele deu um passo para trás e disse orgulhosamente.
— Mas o que você está falando é tão típico de um alfa. Eu não sabia porque nunca tinha conversado com você direito.
Jaekyoung parou. Sua mão, que estava estendida para segurar Jiheon, congelou no ar. Jiheon olhou para a mão e sorriu para ele novamente.
— É bom saber disso hoje.
Ele disse brincando, em um tom leve, mas o garoto obviamente sabia o verdadeiro significado por trás dessas palavras.
Provavelmente era por isso que Jaekyoung parecia tão magoado.
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LILITH TRADUZ (@lilithtraduz)