Traços - Novel - Vol 1 - Capítulo 11
‘…isso é real?
Jiheon pegou o telefone.
‘Não pode ser. Não pode ser verdade.’
Se ele estivesse tão curioso, poderia ter perguntado quem era o convidado, mas não estava com ânimo para isso.
— Tudo bem, estou descendo agora. Obrigado.
Jiheon se levantou rapidamente assim que desligou a ligação. Saindo do escritório, ele nem pensou em esperar pelo elevador e simplesmente desceu as escadas.
Ao chegar ao primeiro andar, Jiheon percebeu que tudo era real. Seu mal pressentimento, o que ele tinha ouvido da equipe, tudo era realmente verdade.
Desde que ele não fizesse nada em relação à sua altura e corpo, todos reconheceriam imediatamente que se tratava de Kwon Jaekyoung.
Mesmo com óculos escuros e uma máscara, todos no saguão não puderam deixar de olhar e murmurar entre si.
Esse prédio abrigava não apenas agências esportivas, mas também empresas de entretenimento e publicidade. Então, naturalmente, no momento em que as pessoas viram Jaekyoung, todas disseram: — Ah, Ah? É ele?
Ao chamar o nome de Jaekyoung nesse ambiente, era como se estivesse convidando outras pessoas para cumprimentá-lo, tirar fotos e fazer alvoroço.
Jiheon foi forçado a se aproximar de Jaekyoung em silêncio.
— O que o traz aqui?
— Preciso falar com você.
Jaekyoung respondeu abruptamente, aparentemente sem ouvir suas palavras. Jiheon se sentiu um pouco irritado, mas rapidamente recuperou a compostura.
— Se for sobre o contrato, você deve falar diretamente com o CEO em vez de…
— Não, com você, hyung.
Jaekyoung cortou as palavras de Jiheon novamente.
Então, de repente, ele insistiu.
— Eu gostaria que fôssemos rápidos.
‘Ok, ele deve estar ocupado. Ele quer manter tudo o mais simples possível,’ pensou Jiheon, entendendo o comportamento de Jaekyoung.
— Então, gostaria de ir a uma cafeteria próxima? É um lugar que normalmente usamos para reuniões de negócios e é tranquilo, com menos pessoas.
— Não tenho tempo para ir até lá.
Jaekyoung respondeu claramente.
— Basta achar qualquer lugar onde estejamos apenas nós dois. Até mesmo o banheiro está bom, contanto que não haja ninguém por perto.
A maneira como Jaekyoung falou indicava que ele não tinha vindo para discutir o contrato. Jiheon queria pedir a ele para ir embora, mas não podia ignorar uma pessoa que se esforçou para vir até aqui.
Porém, discutir assuntos no banheiro estava fora de questão.
Por fim, Jiheon se virou e disse:
— Então, por favor, venha por aqui.
Jiheon decidiu usar a sala de reuniões no quarto andar, já que Jaekyoung não tinha tempo para ir à cafeteria. Tinha certeza de que ela estaria vazia a essa hora e não precisava de permissão para usar a sala por 10 minutos.
O elevador acabou de subir do estacionamento subterrâneo, então Jiheon rapidamente apertou o botão de subir. Quando o elevador chegou ao primeiro andar, ele fez contato visual com a pessoa que estava lá dentro.
— Hã? Hyung!
Song Yeonho estava no elevador.
Yeonho era um esgrimista, de 25 anos. É uma das principais estrelas associadas à Spoin. Seu talento era evidente desde cedo, pois ele já havia entrado para a equipe nacional quando ainda estava no ensino médio. Além disso, sua aparência alta e bonita rendeu a ele o apelido de “Espadachim Bonito” pela mídia. O formato de sua espada de sabre fez com que a equipe da Spoin o chamasse de “Príncipe”, meio de brincadeira.
— Yeonho, há quanto tempo.
Durante os Jogos Asiáticos do ano passado, Jiheon foi designado para a equipe de apoio de campo e teve a oportunidade de interagir com Yeonho. Apesar de ser dois anos mais novo, Yeonho se dirigiu a Jiheon como “Hyung” e o tratou com gentileza, em vez de usar seu primeiro título de “Chefe” (o cargo de Jiheon na época). A partir de então, toda vez que Yeonho encontrava Jiheon na empresa, ele continuava a se referir a ele como “Hyung”. Embora Jiheon tenha o corrigido algumas vezes para que usasse seu título atual de “Gerente”, ele acabou desistindo e deixou Yeonho chamá-lo como quisesse.
— Você está indo para o quarto andar? Não para o terceiro?
Jiheon perguntou a Yeonho, percebendo que o botão do quarto andar já estava pressionado.
Yeonho explicou que estava aqui para enviar alguns documentos ao departamento do RH.
— A propósito, hyung, sabia que eu ganhei a competição individual da Copa dos Presidentes há pouco tempo?
— Claro que sim. Quem você acha que escreveu aquele artigo à imprensa?
— Ah, sabia.
Yeonho fez um sinal positivo, e Jiheon sorriu antes de fazer outra pergunta.
— Você vai mesmo fazer parte da equipe nacional para as Olimpíadas do ano que vem?
— Claro que sim. Mesmo se eu somar os rankings da FIE (Federação Internacional de Esgrima), ainda sou o número um.
— Ei, parabéns. Você foi muito bem.
Jiheon elogiou ele e acariciou sua cabeça. Yeonho sorriu com orgulho, mas não parava de olhar para Jaekyoung ao lado de Jiheon, aparentemente irritado. Parecia que ele estava tentando descobrir se era realmente Jaekyoung.
Nesse ritmo, Jiheon estava preocupado com a possibilidade de Yeonho falar de repente com Jaekyoung, mas, felizmente, eles chegaram ao quarto andar. Quando a porta do elevador abriu, Jiheon saiu primeiro e se despediu de Yeonho.
— Cuide de seus negócios primeiro, Yeonho. Vejo você mais tarde.
— Ok. Estou indo para o RH!
Yeonho acenou com a mão com entusiasmo, e Jiheon respondeu: — Ok, — antes de seguir na direção oposta.
Jaekyoung seguiu Jiheon em silêncio.
Depois de passar pelo escritório dividido entre os departamentos de Recursos Humanos e Administração, eles chegaram à sala de reuniões, convenientemente localizada ao lado.
Jiheon abriu a porta, verificando se estava vazia antes de convidar Jaekyoung a entrar.
— Entre.
Jaekyoung entrou primeiro na sala de reuniões e Jiheon o seguiu.
— As pessoas não devem vir aqui.
Ele acendeu a luz no interruptor da parede e, de repente, ouviu um barulho vindo atrás.
Surpreso, Jiheon se virou e viu Jaekyoung trancando a porta.
Depois de confirmar que a porta não estava aberta, Jaekyoung se aproximou lentamente dele. Jiheon olhou para ele de costas para a parede.
— Estou aqui para perguntar uma coisa.
Jaekyoung disse com seu rosto bem próximo de Jiheon.
— O que você quer?
— Hyung, você é um beta?
Jiheon ficou com dúvidas sobre seus ouvidos por um momento.
— Ei…
Ele estava surpreso com o fato de ter dito isso inconscientemente. Jaekyoung veio até aqui só para perguntar isso?
— Jaekyoung.
Jiheon forçou um sorriso e chamou seu nome. Ele sorriu não por querer sorrir, mas porque estava sem palavras.
Mas Jaekyoung não sorriu nem um pouco.
— Você é um beta?
Ele pressionou Jiheon com a mesma expressão sem emoção de antes.
— Que diabos há de errado com você? Por que está curioso sobre isso?
— Responda rápido.
— Ei.
— Hyung, você é um ômega, não é?
Jaekyoung mudou a pergunta e, naquele momento, o sorriso desapareceu do rosto de Jiheon.
— Você é um ômega, não é?
Jaekyoung perguntou novamente. Não, foi uma pergunta, mas ele realmente parecia confiante.
— …percebe que isso é assédio sexual? — Jiheon respondeu com calma.
— Não saia por aí perguntando coisas desse tipo às pessoas. Você será processado.
— Quando foi a última vez que você trocou seu chip?
— Você ouviu o que eu acabei de dizer?
No final, Jiheon estalou a língua em frustração.
— E por que você é tão presunçoso…
— Tem esse cheiro.
O comentário repentino de Jaekyoung pegou Jiheon desprevenido. Ele parou de falar e olhou para ele.
— Estou falando a verdade.
Jaekyoung disse brevemente quando seus olhos se encontraram. Sua voz sem tom e seu rosto sem expressão tornaram ainda mais difícil para Jiheon adivinhar suas intenções.
— Como assim, esse cheiro?
Jiheon perguntou, tentando manter a voz calma.
Jaekyoung olhou fixamente para Jiheon e logo virou a cabeça e disse: — É como…
— O seu cheiro, hyung. É como um perfume estranho de grama.
— Jaekyoung.
— Você tinha esse cheiro desde que estava no centro de natação.
— …….
O corpo de Jiheon ficou fraco ao ouvir essas palavras. Se baixasse a guarda, ele tropeçaria a qualquer momento, então se encostou na parede com os braços cruzados.
Ele queria dizer algo, mas não conseguia encontrar uma resposta imediata. Sentia como se sua cabeça fosse literalmente um quadro em branco.
Não foi apenas uma surpresa; ele se sentiu profundamente desapontado. Estava tão decepcionado que até se sentia miserável.
Ele torcia sinceramente por Jaekyoung porque tinham compartilhado um passado juntos. Embora não esperasse que Jaekyoung se sentisse da mesma forma, ele não tinha ideia de que esse cara teria sentimentos tão ruins em relação a ele.
Não, não importava o que Jaekyoung pensava dele. Jiheon estava apenas desapontado com a forma como ele se expressou dessa maneira. Por mais difícil que fosse, ele acreditava que esse cara não era do tipo que magoava os outros.
Jaekyoung sempre pareceu indiferente aos outros, mas Jiheon não acreditava que ele fosse mal-humorado ou tivesse uma personalidade distorcida. Ele acreditava que a indiferença de Jaekyoung era muito melhor do que se intrometer nos negócios dos outros.
Quando ouviu isso no hotel, Jiheon simplesmente considerou como uma possibilidade e deixou passar.
Ele acreditava que Jaekyoung devia estar muito magoado no passado e culpava Jiheon por isso. Ele esperava que dizer tal coisa aliviaria a mente de Jaekyoung, então tentou assumir a culpa e colocar um ponto final no assunto.
No entanto…
— Você gosta de tirar sarro das pessoas assim?
Jiheon perguntou calmamente, com os braços cruzados. Um sorriso condescendente poderia ter sido melhor, mas ele não estava com vontade de fazer tanto esforço.
— Você já terminou de falar, não é?
Jiheon endireitou seu corpo. Quando ele tentou sair da sala de reuniões, Jaekyoung o agarrou.
— Que diabos. Me soltea.
Surpreso, Jiheon tentou se livrar dele, mas Jaekyoung não o soltou.
A mesma mão, que havia sido facilmente removida quando Jiheon se livrou há dez anos, agora agarrava seu pulso com ainda mais força.
— ……!
Jiheon estremeceu de dor, mordendo o lábio para evitar que qualquer som escapasse. Para ele, era uma questão de orgulho conter o desconforto.
Jaekyoung olhou para Jiheon em silêncio, falando com uma voz irritada.
— Cabe a você acreditar em mim ou não, mas, já se passaram mais de três anos desde que você trocou seu chip, deveria consultar um médico, hyung. Minha sensibilidade ao feromônio provavelmente está no nível mais baixo agora por causa dos medicamentos, mas se eu consigo sentir o cheiro vindo de você, a situação deve estar bastante ruim.
Assim que terminou de falar, Jaekyoung pegou o lenço no bolso da camisa de Jiheon e o jogou no chão.
Soltando o pulso de Jiheon, ele abriu imediatamente a porta da sala de reuniões e saiu.
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LILITH TRADUZ (@lilithtraduz)